[Hidrocefalia
Ana Lúcia Hennemann-Agosto/2012]
A Hidrocefalia, popularmente conhecida como “água na
cabeça”, citada por PROCKOP (2006) se caracteriza por aumento do volume do
líquido cefalorraquiano (LCR) e dilatação dos ventrículos cerebrais. É
classificada de acordo com os seguinte tipos: - Hidrocefalia obstrutiva
(malformação congênita, pós-inflamatória ou pós-hemorrágica, processos
expansivos); - Hidrocefalia com pressão normal; - Hidrocefalia comunicante:
(produção excessiva de LCR, absorção deficiente do LCR, Insuficiência da
drenagem venosa; Hidrocefalia ex. vácuo, quando relacionado com atrofia
cerebral.
Pode ser classificado como hidrocefalia comunicante ou
não comunicante, dependendo da sua etiologia; sendo que o Hidrocéfalo não
comunicante se refere a hidrocefalia que resulta de lesões que obstruem o
sistema ventricular e hidrocéfalo comunicante se refere a lesões que afetam e
obstruem o espaço subaracnóide.
A hidrocefalia pode ser causada por obstrução
liquórica (gliose, cisto colóide, gliomas, craniofaringeomas, cistos de
aracnóide, meduloblastomas, ependimomas, astrocitomas, tumores, estenose), mas
também pode ser de causas comunicantes (trauma, hemorragia subaracnóide,
infecção, idiopática). Em algumas crianças prematuras a hemorragia
intraventricular com hidrocéfalo pós-hemorrágico pode ocorrer 4 semanas após.
A variação da sintomatologia depende da faixa etária
em que o indivíduo se encontra:
- Prematuros/lactentes: Apnéia,
bradicardia, fontanela tensa, veias do escalpo dilatadas, formato do crânio globóide,
aumento do perímetro cefálico (vários centímetros em poucos dias)
- Infantes: Irritabilidade, vômitos,
náuseas, macrocefalia, fontanela tensa, dificuldade para fixação e controle da
cabeça, alteração ocular (sinal do "sol poente" - compressão mesencefálica).
- Crianças mais velhas: Dor de cabeça,
vômitos, letargia, diplopia, edema de papila, hiperrreflexia, clônus.
Baseado nos sintomas acima, o médico ao suspeitar de
hidrocefalia, faz uma verificação na anamnese com a mãe sobre dados do
pré-natal, exame neurológico (com medição de perímetro cefálico diário).
Devem ser considerados exames complementares como:
ultra-som (para verificação de tamanho ventricular, massas), tomografia de
crânio e ressonância magnética de crânio, para ajudar no diagnóstico.
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Para o tratamento da Hidrocefalia se utilizam medidas
para fazer o escoamento desse excesso de líquor ventricular com a adoção de
válvulas para drenagem deste líquido para o peritônio (derivação ventrículo
peritonial - DVP); ou para o átrio (derivação ventrículo atrial - DVA).
Existem algumas medicações que fazem baixar a produção
liquórica (acetazolamida), porém nem sempre tão eficientes. É importante
salientar que são crianças que necessitam de acompanhamento neurológico intenso
e verificação do grau de desenvolvimento que pode ou não sofrer prejuízo.
Saber que algum familiar apresenta hidrocefalia gera
medo, desconforto e aflição. Em estudos realizados por Andrade (2009, p.440)
foi retratada toda a questão familiar cujo cenário se defronta com a hidrocefalia,
Cuidar da criança com doença crônica é uma dura
experiência para a família. Os pais relataram ser difícil saber se o filho tem
uma doença incurável e efetuar as necessárias mudanças na dinâmica familiar daí
decorrentes. Da mesma maneira, as limitações e dificuldade impostas pela
hidrocefalia são difíceis para a criança e família. As crianças com
hidrocefalia enfrentam muitos obstáculos que limitam sua independência e
capacidade de cumprir o que a sociedade considera como normal.
Reportando quanto à questão de aprendizagem com
crianças de hidrocefalia, Schneider e Gabriel (1994) elencam vários de déficits
que estas crianças podem apresentar e explicitam que mesmo as que apresentam QI
normal ainda assim apresentam déficits temporais visomotores e perceptivos,
uma vez que esse comprometimento tem sido vinculado a lesão da substância
branca causada pelo alargamento ventricular. Apresentando dados quantitativos,
Denadai (2012, p.59) salienta que:
Dificuldade no desempenho acadêmico em crianças com
hidrocefalia é frequente e persistente, mesmo com o bom funcionamento dos
shunts[1]. Em
estudo que avaliou 82 crianças com hidrocefalia, diagnosticadas e acompanhadas
na primeira infância, após serem submetidas à derivação liquórica, foi
demonstrado déficit cognitivo em 58,5% dos casos.
Dentro da concepção neurocientífica, através de
estudos de Lundy-Ekman (2008), sabe-se que as funções do lobo frontal
geralmente estão envolvidas nos casos de hidrocefalia, comprometendo assim,
algumas características das emoções, planejamento, memória e intelecto. No
entanto, os mesmos estudos mostram que a linguagem, consciência de espaço e
memória declarativa são poupadas.
Uma criança diagnosticada com hidrocefalia necessita
de estimulações fisioterápicas, sendo que esta estimulação precoce pode ajudar
muito na evolução desta criança, proporcionando uma fase de crescimento mais
saudável e com melhores condições na qualidade de vida. Entretanto, Dufloth
(2003, p. 9) salienta que “o objetivo principal da fisioterapia está em
minimizar os déficits psicomotores auxiliando desde as primeiras fases na vida
destas crianças”.
Existem comunidades virtuais que se ajudam mutuamente
procurando trazer maior esclarecimento sobre hidrocefalia. Nestas, constam
relatos de pais, suas angústias, seu despreparo frente à doença, professores em
busca de recursos pedagógicos e também relatos tais como deste adulto, com 36
anos que possui uma vida normal:
Minha mãe conta que ao me entregar para o médico, tão
pequeno e frágil, precisou ouvir dele, que eu estava ainda vivo, mas que
infelizmente não havia promessas de que pudesse voltar da mesma maneira. [...]
Em momento algum me senti diferente de alguém, muito pelo contrário e sabe por
quê? Por que por maiores que tenham sido os cuidados que todos sempre tiveram
comigo, eles nunca me permitiram sentir-me fraco ou inferior. [...] Sequelas?
Numa das últimas conversas que tive com meu médico, ele me disse que era quase
que impossível acreditar que sou eu aquela criança que ele operou a mais de 30
anos e que hoje, visivelmente, não apresenta sinais da doença. Tenho a perna
esquerda (Lado em que foi colocada a válvula) 01 cm menor que a direita, ou
seja, praticamente imperceptível. Sou um cara saudável, em todos os sentidos, e
mesmo tendo de me privar de algumas regalias da vida como, por exemplo, andar a
cavalo, algo que sempre amei, nunca deixei de encarar tudo como um ponto
positivo na minha caminhada já que nunca se sabe como e quando podemos sofrer
uma crise, mas quer saber? Isso ainda não é suficiente pra que eu me sinta
fraco. Estive com o Dr. Ruy Carneiro, este abençoado homem que deixou que Deus
agisse por ele e salvasse a minha vida e sabem o que foi que ouvi deste mesmo
homem? Eu lhes conto. Ele me disse: "Menino, você deve agradecer a Deus
pela sua vida... É inexplicável... Deve ser mesmo um Milagre Divino: Olharmos
pra você e dizermos que não existe qualquer sequela. Mesmo com a perda de parte
do teu cérebro, ou seja, a parte atingida pela Hidro, você é um ser perfeito,
verificando pelos teus exames, você tinha tudo pra ter sequelas e sequelas
consideráveis, diga-se de passagem e por conta de milímetros, inexplicavelmente
isso não aconteceu." Meu Deus.... Preciso dividir com vocês: Se antes eu
me achava um vitorioso, agora, só tenho o que comemorar, pois sou muito mais
que isso.... Dá pra imaginar??? É como se a Hidro não existisse mais pra mim...
Sei que ela está aqui, mas sou superior a ela, coisa que aliás sempre, sempre
fui.(MARCELO, 2012)
Na releitura do texto citado, pressupõe-se que cada
caso é único, sempre há esperança, mas se faz necessário a formação de pessoas
capacitadas que invistam nas melhores condições de qualidade de vida para
aqueles que apresentam tais doenças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Mariana B. DUPAS, Giselle. WERNET, Monika. Convivendo
com acriança com hidrocefalia: Experiência da família. Revista Ciência Cuidado
e Saúde. V. 8, nº3. Maringá: UEM, 2009. Disponível online em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewFile/9044/5012> Acesso em 23/06/2012.
DENADAI, Rafael et al. Transtornos de
aprendizagem e alteração cognitiva secundária a hidrocefalia por estenose do
aqueduto de Sylvius. Relato de Caso. Revista Brasileira Clínica
Médica.jan/fev. nº10. São Paulo: 2012.
DUFLOTH, Fernanda. Índice de crianças portadoras
de hidrocefalia internadas na UTI neonatal e pediátrica do HNSC, no período de
Agosto/02 à Agosto/03. Santa Catarina: UNISUL, 2003. Trabalho de Conclusão
do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina.
Disponível online em:< http://www.fisio-tb.unisul.br/Tccs/03b/fernandad/artigofernandadufloth.pdf > Acesso em 18/06/2012.
HIDROCEFALIA INFANTIL.s.n.t. Disponível online em:http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?237 Acesso em 25/05/2012
MARCELO. Marcelo um vitorioso. 2012.
Disponível online em <http://comunidadehidrocefalia.blogspot.com.br/2012/01/marcelo-um-vitorioso.html> Acesso em 24/06/2012
SCHENEIDER, J.W., GABRIEL, K. L. Lesão medular
congenital. In UMPHERED, D.A. Fisioterapia neurológica. São Paulo: Manole,
1994.
[1] O
shunt (que quer dizer - desvio, em inglês) é um termo muito utilizado na
ciência médica. Imagine uma caixa de água (aquelas de 10.000 litros) drenando
continuamente por um cano pra uma rede de esgoto. Agora imagine essa mesma
caixa de água só que com o seu cano de drenagem entupido. O que vai acontecer?
Vai transbordar (suponhamos que a caixa receba água continuamente de uma
fonte). O que se pode fazer para evitar isso? Uma ideia seria colocar uma
mangueira dentro da caixa de água e drenar diretamente pro. Você não acha? Pois
bem, essa mangueira, que é uma via alternativa de drenagem, funciona como um
shunt, por que ela está desviando a água por uma rota alternativa.
(informações:
http://www.qued.com.br/site/index.php/duvidas/O-que-e-e-como-funciona-o-metodo-shunt)
O TEXTO FOI EXTRAIDO NA INTEGRA DO SITE : Neurociências em beneficio da educação, no link: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2012/08/hidrocefalia.html
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